no apagar das luzes

16, novembro 16-03:00 2009 às 8:36 pm | Publicado em cotidiano, curitiba | 2 Comentários
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Foto daqui.

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Discreto, meio acabado e sutilmente elegante, o Cine Luz se foi do jeito que era.  Sem tanto alarde e choradeira como o fim do Cine Ritz – que contou com abaixo-assinado, manifestações de protesto e últimas sessões concorridas – o penúltimo cinema de rua de Curitiba cerrou suas portas na última sexta-feira 13.

Confesso que já fazia tempo que não frequentava as poltronas do Luz, a sessão gratuita para professores do início da tarde de sábado do Unibanco Arteplex estava preenchendo este lugar de preços populares e filmes distantes do circuitão. Mas a possibilidade de meio ingresso (a dois reais!) e de um cinema do outro lado da quadra da Universidade na minha época de calouro  não só marcou minha trajetória afetiva com a sétima arte como foi determinante em minha formação acadêmica. Aprendi mais com os filmes europeus com som ruim do que com muitas matérias burocráticas do ensino superior. A economia nos cinemas da Fundação Cultural  (e a novidade da carteira de estudante) me permitia frequentar ao menos um filme por semana. Em certa ocasião cheguei a ter assistido a todos as películas em cartaz do guia cultural do jornal. Bons tempos.

É certo que o cinema não tinha lá muitos frequentadores. Eu sempre torcia para assistir um filme totalmente sozinho. Nunca consegui, pois sempre havia pelo menos mais alguéns que apareciam (este sonho só foi realizado anos mais tarde, paradoxalmente, em multiplex de shopping). Mas isto é sinal de que eles existiam. E tenho certeza que para eles o Luz não era pouca coisa.

A prefeitura promete reabrir o Luz na nova rua Riachuelo. Sinceramente, tomara que abra. Mas é a mesma prefeitura que promete dar um jeito no aterro do Caximba, metrô e ciclofaixas. Sei não.

Sobem os créditos.

muito além da monitoria

10, novembro 10-03:00 2009 às 11:24 am | Publicado em histórias verídicas que realmente aconteceram | 14 Comentários

rodrigo

– Ô professor, tem vaga para monitoria em Estatística?

– Vaga tem, mas não estava pensando em abrir seleção este ano… ué, por quê? Você quer ser monitor?

– Isso.

– Ô Rodrigo, mas por que você inventou de querer ser monitor, ainda mais de Estatística?

– Ah, porque eu acho que vai ser legal!

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Fiz uma seleção proforme cujo único candidato era o Rodrigo. Obviamente ele passou  e assumiu seu papel de monitor no mesmo dia. Incrível ver o seu prazer em auxiliar os colegas no laboratório ou em ajudar a corrigir as provas. Ou como tornava as coisas ainda mais divertidas: durante a execução da prova, foi ele que tomou a iniciativa de, entre uma olhada e outra nos probandos, jogar na internet comigo o “Roda a Roda” do Silvio Santos no computador do fundo do laboratório.

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– Ô professor, eu falo pra todo mundo e é verdade. Eu queria ser como você.

– Ah, pare, Rodrigo.

– Sim, você é engraçado, sabe muita coisa, é gente boa. Se fosse professor, queria ser igual você.

– Você também é gente boa.. mas sem viadagem, né?

– Hehe, claro. Mas eu gosto de você.

– Legal, Rodrigo, mas sem a parte da viadagem, então…

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É difícil receber um elogio tão direto e, na defesa, fica fácil recorrer para uma brincadeira. Ainda mais com alguém que está sempre sorrindo e o clima de bom humor predomina. Lembro bem da última aula onde o Rodrigo estava verdadeiramente feliz por ter encontrado dados relevantes na pesquisa sobre a influência do Sudoku na inteligência de universitários e da alegria na corrida em dar justificativa à namorada que ficava de olho nas outras meninas que ele auxiliava no laboratório. Aliás, dava para sentir a felicidade do casal, o quanto um estava fazendo bem para o outro.

Rodrigo foi atropelado no domingo e faleceu hoje pela manhã. Tão cedo não vou encontrar monitor que tenha tanto prazer um axiliar alguém a calcular uma correlação, tão cedo a faculdade não vai encontrar aluno tão envolvido, tão cedo os amigos não vão encontrar alguém tão popular.

Rodrigo, também gosto muito de você!

Mas sem a parte da viadagem, claro.

 

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