a roda-fixa e a andorinha

18, outubro 18-03:00 2008 às 8:21 pm | Publicado em bicicleta | 8 Comentários
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Os usuários de bicicleta são muito mais felizes do que os usuários de outros modais de transporte. Entre os usuários de bicicleta há, contudo, um grupo que parece se destacar em relação à alegria de pedalar numa magrela. São os usuários da roda-fixa.

A roda-fixa, ou bicicleta de pista, tem apenas uma marcha e seus pedais giram conforme a roda traseira também gira. Não deve ser confundida com as barra-fortes (e similares) que não tem freio no guidão (basta pedalar para trás) pois nestas é perfeitamente possível descer uma ladeira “na banguela”, descansando os pés; coisa impossível numa fixa.

Pois bem, tão forte a empolgação dos usuários da fixa que resolvi tirar 9 marchas da minha Caloi 10 e experimentar a brincadeira. Uma visita na oficina e um quilo e meio a menos de peças, incluindo o freio traseiro. Algumas semanas de treinamento e uma maneira nova de pedalar na cidade, incluindo a sensação novíssima de reaprender a andar de bicicleta. Três meses de prática e a dúvida de como isso não aconteceu antes, incluindo o questionamento do excesso de componentes de outras bicicletas.

Mas como descrever a experiência? Uma metáfora me parece bastante adequada: uma roda-fixa é como uma andorinha. Por quê?

  1. As andorinhas nascem nas alturas e sempre vivem nas alturas. Nunca põem os pés no chão, nunca tocam o solo. Seu pouso acontece apenas em lugares altos. Pois bem, os ciclistas que pedalam em uma fixa estão em constante movimento e evitam, a todo custo, colocar os pés no chão. Não é difícil pois a cadência flexível e o controle (e equilíbrio) maior sobre o veículo a mantém sempre em movimento. E conta-se também com o auxílio de um firma-pé, pedaleira ou pedal clipless que, se não deixam a atividade de se apoiar no chão mais difícill, ao menos não a estimulam.
  2. As andorinhas costumam voar em círculos. Pedalando em círculo também é como fica o ciclista que, sem querer colocar os pés no chão, precisa esperar um sinal abrir, por exemplo. Não é o mais freqüente (afinal, já se prevê desde longe o tempo do semáforo e se regula a velocidade para se chegar no momento certo), mas acontece.
  3. Andorinhas são silenciosas. E pedalar numa fixa é extremamente silencioso. Nem o barulhinho da corrente rodando ou do trec-trec das trocas de marcham existem. A impressão é de se estar voando. Como uma andorinha.
  4. Uma andorinha só não faz verão. Cada vez mais andorinhas, digo, fixas tem aparecido pelas ruas, seguindo uma tendência principalmente européia. Depois do Gabba ter trazido a idéia da Inglaterra e da Alemanha e lançado aqui em Curitiba, até em São Paulo estas bicicletas tem se reproduzido.

Pode até ser uma idéia fixa. Mas pelo menos não ficará guardada na gaiola do lado escuro da garagem.

8 Comentários »

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  1. Parabéns! Estou com uma Caloi 10 para restaurar, é um modelo simples e acho que não vale a pena. Estou pensando seriamente em transformá-la em fixa. Quanto gastou na transformação?

    Vi que o encaixe traseiro ficou original, como esticar a corrente quando esta apresentar folga? Quem fez o serviço?

    Renato

  2. Renato, quem fez a transformação foi o Fernando, mecânico do Cicles Romeu, próximo da praça 29 de dezembro. O cara é fera, tem trabalhado em outras fixas; fez um excelente trabalho na bicicleta do Gunnar, por exemplo:

    http://rodafixa.blogspot.com/2008/10/pisteira-gunnar.html

    Não lembro exatamente quanto gastei, mas não passou de 80 reais, incluindo as peças novas. Realmente, vale mais a pena do que restaurar a Caloi 10, talvez saia até mais barato.

    A relação das catracas que coloquei ficou muito pesada. Já me acostumei (em outras palavras, minhas pernas já ganharam condicionamento para quase conseguir pedalar na descida sem freio), mas para começar recomendo uma relação mais leve.

    Abraço!

  3. O Pedalante já se adiantou e recomendou este post no fixa sampa. Acabei de fazer o mesmo no meu blog. Fiquei com vontade de roubar o post inteiro, mas me controlei e fiz só uma citação. Abraço.

  4. Poxa, que coisa linda. Posso roubar? (com os devidos créditos…). Fico sonhando com a minha…

    Vamos voando!
    Beijos.

  5. […] santa entre Curitiba e São Paulo para ver quem tem mais fixas. Aqui tem o Gabriel Nogueira, o Meandros, só para citar alguns. Lá (SP) tem bastante, […]

  6. Gostei muito das analogias que vc faz da fixa com a andorinha, ficou muito bonito e poético!
    até eu fiquei com vontade de experimentar uma roda fixa, acho que deve ser mais fácil de pedalar que uma reclinada!

  7. […] por exemplo, que eu posso sacar o controle do portão e abrí-lo sem descer da bicicleta ou tirar uma foto fodástica em um momento único simplesmente sacando a máquina digital que está […]

  8. […] o pé pedalando minha (ex-) fixa em um acidente como o do gueparto acima. A fratura já consolidou e estou quase com todos os […]


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